A pandemia de coronavírus (Covid-19) vem mudando a rotina das pessoas e impactando a economia. É consenso de que nosso primeiro e principal compromisso é o de salvar vidas e evitar o colapso do sistema de saúde. Não podemos, no entanto, esquecer que empresas estão parando as atividades, empregos sendo fechados e famílias tornando-se cada vez mais vulneráveis. Neste cenário, a indústria do turismo, eventos e entretenimento foi sem dúvida a mais afetada. Fomos o primeiro segmento a cancelar atividades, estamos em nossa maioria proibidos de operar (há muitas empresas com redução de 100% das receitas) e seremos, muito provavelmente, um dos últimos a retomar uma rotina normal ao final da crise.
Só o setor de cultura e entretenimento deve somar prejuízos que podem superar os R$ 290 milhões, considerando-se apenas o universo das associadas. Se levarmos em conta toda a indústria nacional, as perdas podem chegar a R$ 90 bilhões. Projetamos a triste previsão de que haja cerca de 580 mil demissões.
Estes números podem piorar? Sim, se decisões forem tomadas sem uma discussão ampla e transparente, avaliando todas as consequências.
Uma medida que vem sendo propalada nos últimos dias é a sinalização de que o Governo Federal pode autorizar a antecipação de feriados para o período de quarentena, visto que os comércios estão fechados. Para o setor de cultura e entretenimento, tal decisão seria um desastre!
Entendemos o espírito da medida, o objetivo é nobre, mas as consequências são inimagináveis. Na tentativa de compensar um setor impactado, vamos condenar mortalmente outros ainda mais fragilizados. Além de sermos os últimos na lista da perspectiva de retomada, nós, produtores e promotores de eventos, hotéis, restaurantes, viagens e turismo, estamos entre os mercados que enfrentarão o processo de recuperação mais lento, aponta o Estudo da Bain & Company.
Feriados são excelente instrumento de fomento de consumo. É um equívoco acreditar que antecipá-los beneficiará o comércio. Sem o turismo e sua cadeia produtiva, haverá redução do poder de compra de milhões de trabalhadores. E mais, teremos um encolhimento da injeção de recursos na praça, gerados fora da cidade de residência. É fundamental que proposições como estas sejam avaliadas com base em um ambiente macro e não setorial, como temos observado.
Então, pedimos: não antecipem os feriados! Com o fim da pandemia, eventos, shows e viagens, que estão diretamente ligados ao calendário de feriados, precisam ser reagendados, impulsionando toda a cadeia produtiva, inclusive as empresas do comércio, amenizando as perdas que vêm afetando o setor.
Convocamos todas as lideranças políticas e entidades representativas para discutir o assunto com urgência. É preciso ouvir todas as vozes no processo, para evitar que decisões precipitadas sem a devida análise causem danos a todos os segmentos da economia, a partir da mortalidade de um único, porém importante setor.
DORENI CARAMORI
Associação Brasileira dos Promotores de Eventos – ABRAPE