Suspensão de eventos pode deixar mais de 3 milhões sem trabalho Insegurança sobre a retomada das atividades e nova onda de demissões pode afetar brutalmente o setor de cultura e entretenimento, aponta novo estudo da ABRAPE.
O avanço no número de demissões, o crescimento exponencial dos prejuízos financeiros e a estagnação total das atividades, em virtude da pandemia de coronavírus (COVID-19), devem afetar ainda mais o setor de cultura e entretenimento nos próximos meses. O cancelamento de eventos em todo País pode deixar mais de 3 milhões sem trabalho. A perda média por empresa já chega a 1,16 milhão. Os números, que constam da segunda pesquisa elaborada pela Associação Brasileira dos Promotores de Eventos – ABRAPE, entidade que representa produtoras e promotoras no País, traz previsões preocupantes.
Até o início da crise, o setor empregava em torno de 1,8 milhão de profissionais diretos e terceirizados. O estudo revela que, com o cancelamento e adiamento de eventos mais de 240 mil profissionais já perderam os empregos até o final de abril. E a tendência é que este número cresça para 563 mil demissões até agosto, e podendo chegar, em outubro, a 841 mil desempregados, caso não haja segurança nas variáveis que definirão o retorno das atividade. “É um dado que assusta, mas é muito realista. Se ficarmos estagnados até outubro, mais da metade das ocupações formais deixarão de existir”, relata o presidente da ABRAPE, Doreni Caramori.
A informalidade também sofre os impactos. Há 5 milhões de indiretos e freelancers sem registro em carteira atuando no setor. “São trabalhadores que têm nos eventos a oportunidade de gerar renda, vendendo produtos como lanches e bebidas em entrada de shows, por exemplo. Pelo menos 670 mil já estão vulneráveis. Em agosto, o número pode subir para 1,5 milhão e, em outubro, atingir 2,3 milhões. Entre formais e informais, 3 milhões podem ficar sem renda”, frisa.
Prejuízos – Responsável por 4,32% do PIB nacional, a cadeia produtiva de eventos é um universo de aproximadamente 60 mil empresas. Em abril, a ABRAPE já estimava que esses negócios poderiam atingir perdas substanciais. Mas os números podem ser ainda maiores.
“A nova rodada de pesquisa, realizada com a nossa base de associadas, mostra que o prejuízo médio por empresa acumulado até o final de abril foi de 1,16 milhão, e que as perdas até agosto devem aumentar 88,7%, chegando na casa dos R$ 2,205 milhões”, relata o empresário líder da entidade. Se necessária a continuidade das políticas de isolamento, até outubro o rombo no caixa de cada empresa pode estar em torno de R$ 3,116 milhões. Esse aumento de 2,5 vezes o atual prejuízo é ainda mais preocupante por revelar que a cada semana o prejuízo aumenta quase 8%”.
O novo estudo da ABRAPE revela, ainda, a curva crescente dos adiamentos e cancelamentos e seus desdobramentos se a atual conjuntura for mantida. Até agosto, 52% dos cerca de 590 mil eventos programados para 2020, segundo a entidade, estarão cancelados. “A informação mais dura pra gente é prever que, até outubro, dois terços de tudo que foi programado poderá ser rescindido, ou seja, mais de 454 mil eventos podem não acontecer”, explica Doreni.
Crédito – Desde o início da pandemia, promotoras e produtores vêm lidando diariamente com o custo da paralisação e da incerteza de quando e como irão retornar à normalidade, o que para Doreni, é bastante preocupante. “Estamos verdadeiramente apreensivos quanto à sobrevivência das empresas. E trabalhando arduamente para minimizar obstáculos e ajudá-las em diversas frentes. A preocupação aumenta considerando a importância do setor enquanto âncora de uma cadeia econômica. Se o produtor de eventos não sobreviver, morre também uma grande rede de fornecedores e informais que têm renda ligada a nossa atividade”, ressalta.
A ABRAPE tem discutido medidas com entidades do setor e órgãos do Governo Federal. Houve avanços como a normatização das regras para o tratamento de eventos cancelados e para a administração de questões trabalhistas. Mas as tratativas com Ministério da Economia e Ministério do Turismo seguem. “Nosso foco agora é buscar a solução no acesso às linhas de crédito emergenciais para concessão de capital de giro, com carências, prazo dilatado e condições subsidiadas”, finaliza o presidente Abrape.