Houve duas eleições, quase que sumultâneas em Porto Alegre. A primeira, elegeu Sebastião Melo e a segunda, já na segunda feira elegeu os verdadeiros culpados pelo aumento alarmante das infecções de COVID 19 na capital. Pelos decretos e recomendações oficiais, os grandes vencedores foram a Cultura e a Indústria do Entretenimento. Fiquei surpreso porque existiam fortíssimos candidatos e com muito mais competência do que os eleitos.
A minha ingenuidade achou que a nova e enorme disseminação de casos da doença poderia ter sido causado pelas festinhas clandestinas, que reúnem centenas de pessoas, todos os fins-de-semana, em sítios escondidinhos, onde as pessoas, sem nenhuma adoção de medidas de precaução se divertem à valer.
Presumi errado, certamente, que aquela turba que fica aglomerada na Rua Padre Chagas, parques, praias e logradouros públicos, bebendo seu drinques, conversando pertinho um do outro (sem máscara, claro) era outra forte candidata.
Sinto-me uma “Velhinha de Taubaté” em supor que campanhas eleitorais disputadíssimas, com passeios, carreatas, corpo-a-corpo e obrigatoriedade de voto, pudessem ser as favoritas nesta hipotética eleição de quem infecta mais.
Pensei nos supermercado (que, por sinal, adotam medidas protocolares de higiene exemplares) e nos velhinhos com suas máscaras abaixo do nariz, tivessem alguma chance nesse pleito.
Poderiam ser os chamados negacionistas, que se esforçam para minimizar a gravidade da situação pandêmica, embora muitos já estejam experimentando UTIs e respiradores artificiais, e para os quais, desejo pronto restabelecimento.
As pesquisas erraram feio pois os grandes vilões eleitos, são justamente aqueles que estão completamente aptos e com boa experiência na aplicação e fiscalização das medidas de higiene e distanciamento: os empresários das áreas cultural e de entretenimento que, por tabela, empregam milhares de artistas e pessoas humildes, que se encontram em estado de total vulnerabilidade social.
É compreensível que seja assim, principalmente num Brasil onde o entretenimento e a cultura são considerados itens supérfulos e seus profissionais considerados descartáveis. Artistas, empresários e todos os trabalhadores desta enorme engrenagem que movimenta fortemente a economia nacional estão falindo, ficando doentes de enfermidades psicosomáticas e até passando fome.
A única coisa que se pede é equidade, sempre lembrando que todos devem obedecer os cuidados de higienização das mãos com água e sabão ou abusando do álcool gel, sempre usar máscara e obedecer o distanciamento social.
Garanto que as medidas aqui elencadas serão, invariavelmente, encontradas em eventos ou apresentações artísticas profissionais e nunca em festinhas clandestinas ou em quaisquer aglomerações irresponsáveis ou amadoras.
Parafraseando o querido Zé Antônio “Anonymus Gourmet” Pinheiro Machado: “voltaremos”!
Esgualepados, mas voltaremos.
Zé Victor Castiel – ator, empreendedor cultural e colunista do jornal Zero Hora e do Site GZH de Porto Alegre